EM
QUESTÃO
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Georfrávia
Montoza Alvarenga
Doutora em Educação, Docente do Depto. de Educação da UEL,
Coordenadora do Núcleo de Estudos e
Pesquisas em Avaliação Educacional da UEL
Nos
últimos 10 anos tem proliferado livros, dissertações e teses sobre avaliação,
abordando a questão por vários ângulos. Alguns desses trabalhos são provocativos
e estimulantes. Alguns teorizam com segurança sobre formas de avaliar, que gerem
menos tensão que as práticas atuais, mostrando que muitas das formas utilizadas
estão ultrapassadas e se faz necessário uma ruptura com o malogro que estamos
experimentando. Temos uma série de dúvidas para as quais os conhecimentos especializados
não oferecem resposta. Este é um texto sobre meus primeiros movimentos na abordagem
de avaliação através de Portfólio e não se presta a conclusões definitivas.
Apenas faço uma tentativa de reunir alguns princípios e propor uma forma de
avaliar que pode beneficiar o professor que pretende mudar um pouco seu cotidiano
e o aluno que pretende desenvolver um pouco mais suas competências e habilidades.
A idéia é mudar o paradigma do professor muito ocupado com “dar o conteúdo”
e “preparar provas”, auxiliando-o a usar o seu saber e experiência para alterar
a relação pedagógica, avançando para uma prática avaliativa mais viável e adequadas
às necessidades do profissional para
o milênio que se inicia.
Uma
concepção mais caracterizada, uma prática transformadora, contextualizada e
negociada pode começar a ser construída tendo a avaliação dentro do processo
didático e não fora dele. A avaliação formativa é a mais indicada para esse
objetivo, pois, é talvez a única que auxilia o aluno a apropriar-se das aprendizagens
curricularmente estabelecidas. Esta avaliação acontece na intimidade da sala
de aula onde a relação professor-aluno é mais estreita, especialmente na auto-avaliação
feita pelo aluno e pelo professor individual e/ou coletivamente (Cortesão, 1993).
A prática dessa avaliação requer que as metodologias intensifiquem o inter-relacionamento
entre aluno-aluno e professor-aluno e oportunize ao aluno compreensão sobre
seus processos de aprender. Observar, registrar e agir frente aos sinais enviados
pelo aluno durante o processo ensino-aprendizagem e usar esses sinais para intervenções
é o que se espera desta prática avaliativa (Cortesão, 1993, Perrenoud, 1999).
Uma
das formas que tem demonstrado efeitos positivos e que cumpre requisitos da
avaliação formativa é o Portfólio.
Se
na abordagem hoje utilizada nos cursos da área da Saúde (PBL) espera-se que
o aluno faça auto-monitoramento dos conteúdos propostos, responsabilizando-se
ativamente por sua própria aprendizagem e que estimule proveitosamente a inteligência
na prática, espera-se também uma avaliação condizente.
À
medida em que a intenção de moldar e dirigir vai sendo substituída pela idéia
de olhar o ser humano como capaz de selecionar, assimilar, projetar, interpretar,
entre outras habilidades, a avaliação precisa ter conotação construtiva. O Portfólio
é um instrumento que permite ao instrutor observar no aluno, a capacidade de
resolver problemas e o desenvolvimento de competências específicas através dos projetos que propõe
e participa, além de fornecer uma série de
outras informações sobre os conhecimentos e atitudes, objetos da proposta
curricular.
Portfólio,
uma coleção dos trabalhos realizados pelo aluno, que permite acompanhar o seu
desenvolvimento. Permite ainda analisar, avaliar, executar e apresentar produções
resultantes das atividades desenvolvidas num determinado do período.
O
aluno arquiva e apresenta as evidências das habilidades, atitudes e conhecimentos
definidos durante um tempo, acompanhado pelo responsável pelo curso.
Assim,
o Portfólio nada mais é, que um instrumento que compreende a compilação de todos
os trabalhos realizados pelos estudantes durante um curso ou disciplina e
inclui registro de visitas, resumos de textos, projetos e relatórios
de pesquisa, anotações de experiências, ensaios auto-reflexivos. Quaisquer tarefas
que permitam aos alunos a discussão de como a experiência no curso ou disciplina
mudou sua vida, seus hábitos de estudo, e/ou seus comportamentos
Um
Portfólio tem como maior objetivo ajudar o estudante a desenvolver a habilidade
de avaliar seu próprio trabalho.
É
também um excelente instrumento que pode auxiliar na avaliação do impacto de
programas educacionais.
Serve
especialmente para:
•
Demonstração, pelo estudante, de habilidades específicas, competências e valores.
A
proposta pode ter variações em sua apresentação, mas em geral contém: carta
de apresentação, síntese e reflexão sobre leituras feitas e atividades desenvolvidas
e apresentadas, documentação que evidencie o progresso, apresentado sob várias
formas, desde projetos desenvolvidos em sala de aula como atividades conduzidas
em escolas; amostras de ferramentas utilizadas para aprendizagens pretendidas;
reflexão sobre o desenvolvimento do aprendizado e das formas utilizadas para
tal.
O
grande mérito do Portfólio é sua tendência a centrar a reflexão na prática já
que esta é a referência para construção, reconstrução e socialização do conhecimento.
Ganha
relevo a idéia de continuidade, formação, diálogo, construção-reconstrução que
pode se caracterizar como uma forma alternativa de prover o estudante com um
rol de atitudes encadeadas, que acumuladas demonstram se o objetivo final foi
alcançado.
Um
“menu” de possibilidades nas quais os alunos podem demonstrar ou evidenciar
seus ganhos pode ser previsto e discutido no início do processo já que todas
as atividades requerem muitas decisões e são sempre desafiadoras. Conduzindo
à reflexões (Anson, 1994), eixo básico do processo e início do pensar criticamente
a realidade, olhando-a com mais clareza, abrangência e profundidade, esta é
uma forma rica de ampliar o conhecimento, analisar situações, observar contradições
e superar problemas.
O
uso do Portfólio pelo professor, enquanto
ação pedagógica inserida no processo
didático, supõe domínio do currículo, do processo de aprender e de ensinar e
como analisar o conjunto daí oriundo. A sua implementação exige envolvimento
e comprometimento pois, de nada serve implantar um dispositivo sofisticado em
uma pedagogia rudimentar (Gather e Perrenoud, 1988, Perrenoud, 1997).
Expor
o aluno a uma variedade de situações suficientemente complexas que envolvam
estimulação de uma variedade de inteligências além de verificar como as soluções
são processadas (Gardner, 1995) é trabalho do avaliador quando se propõe a usar
o Portfólio. A avaliação é mais efetiva quando o foco é direcionado para o desempenho
da tarefa e para questões metacognitivas. O que importa é que através da coleta
de informações sobre os tipos de projetos nos quais o aluno se envolve se faça
o acompanhamento e se perceba que produtos foram alcançados.
A
organização desses registros, ou a coleção das atividades desenvolvidas, na
forma de Portfólio é uma parte reveladora do dossiê do aluno.
Gardner,
(1995, p.191), apoiado por Wolf e colaboradores (1991) afirma que “a maior parte do trabalho humano produtivo ocorre
quando os indivíduos estão empenhados em projetos significativos e relativamente
complexos que acontecem ao longo do tempo, são atraentes e motivadores e conduzem
ao desenvolvimento do entendimento e da habilidade.”
Isto
parece pertinente pois trabalhar em um projeto envolve interação com outras
pessoas, colegas que fazem esboços, discutem, decidem e realizam ações efetivas
e professores que orientam, discutem caminhos, analisam e avaliam. Contribuições diversas permitem alterar e refletir
sobre aprendizagens ocorridas durante um certo tempo.
O
aluno, ao registrar os seus trabalhos, está organizando um Processofólio (Wolf et all, 1991) que posteriormente será
triado para reunir, em um Portfólio, aqueles que melhor representem sua produção.
O
Processofólio representa uma documentação importante para o aluno no qual registra
todos os projetos, seus percalços, suas dificuldades, desde os planos iniciais
e provisórios, pontos críticos e tentativas de superá-los, objetivos e competências
que alcançou, o que gostou ou desgostou, intervenções dos professores, além de novas propostas após avaliações.
Este
trabalho é desenvolvido sempre durante a execução das tarefas e exige alguma
forma de reflexão que objetiva ampliar a visão sobre o que foi feito. É a proposta
de reconceitualização.
Embora
seja de difícil aplicação e manejo em contextos amplos e apresente alguns riscos
quanto às responsabilidades do aluno, é um instrumento especialmente útil. Cuidados
relativos à dimensão, critérios, estágios e integração entre as atividades (como
começam e se desenvolvem ao longo do ano) devem merecer cuidadosa atenção. Os
registros do aluno devem ser respeitados em suas peculiaridades pois representam
a forma de transpirar sua produção.
De
tempos em tempos (negociado com os alunos) faz-se necessário uma apresentação
do Portfólio aos colegas e orientadores. Comentários são tecidos a respeito
do desenvolvimento do processo. O início pode parecer muito difícil mas com
a experiência, os alunos vão aprimorando e desenvolvendo novas formas de se
comunicar.
Ao
escolher, no final do período, os trabalhos que representam sua melhor produção
e montar o “Portfólio” o aluno cria
uma espécie de testemunha da sua ação em cada etapa da aprendizagem; é a memória
de diversos momentos que envolve um inter-relacionamento dinâmico do psicológico
com o pedagógico. Anseios, dificuldades, conquistas, formas de pensar, de ser,
agir são mostradas. A característica de continuidade permite que ambos, professores
e alunos, percebam os progressos individuais e coletivos.
Em
termos práticos, a montagem de um Portfólio pode ser decomposto em passos ou
etapas uma após a outras ou combinadas entre si (Shores e Grace, 2001):
1.
Estabelecer uma política para Portfólio
O
que se propõe com o portfólio é estabelecer um vínculo forte entre diagnóstico,
processo e remedição, colocando a avaliação em todas as situações de interação
professor aluno, o que também permite, que o aluno regule seus processos de
pensamento e aprendizagem.
REFERÊNCIAS
BIBLIOGRÁFICAS
1)
CORTESÃO, L. Avaliação formativa: que desafios? Portugal : Asa, 1993.
2)
GARDNER, H. Inteligências múltiplas: a teoria na prática. Porto Alegre
: Artes Médicas, 1995.
3)
GATHER T. M.; PERRENOUD, P. Savoir
évaluer pour miex enseigner. Quelle formation de maêtres. Genéve, Service
de la recherche sociologique, Cahier n.º 26, 1988.
4)
PERRENOUD, P. Construire des compétences dés l’école. Paris: ESF Editeur,
1997.
5)
PERRENOUD, P. Avaliação: da excelência à regulação das aprendizagens.
Entre duas lógicas. Porto Alegre : Artes Médicas Sul, 1999.
6)
SHORES, E.; GRACE, C. Manual de portfólio: um guia passo a passo para
o professor. Porto Alegre : Artmed, 2001.
7)
WOLF, D. et.al. To use their minds well: investigating new forms of student
assessment. In: G.Grant (ed). Review of research in education. Washington,
D.C., v.17, p.31-74, 1991.